5 de fevereiro de 2014

O crepúsculo terminal do Atlântico

As previsões fatalistas de escassez de água surgiram ainda no alvorecer da Revolução Industrial do Século XIX (a primeira das 47 que aconteceriam até que a humanidade se desvinculasse completamente da máquina e a sociedade se tornasse 100% informacional). No entanto, eles falharam sobremaneira no cronograma estabelecido, o que não é de se surpreender, pois falhas de previsão eram comuns naquele período. Durante séculos, recursos de reaproveitamento da água - sendo o principal a casa ecológica - se popularizaram e fizeram adormecer o receio que se tinha num certo momento de que este líquido essencial para a vida um dia pudesse acabar.

Esse sentimento também foi se dissipando na medida em que se descobria em outros ambientes a existência de vida nutrida por elementos antiaquáticos, como arsênio e fósforo. O caos maior foi quando uma sonda americana chegou ao planeta Sedna e coletou amostras moleculares de seres que prescindiam completamente de água - o berílio, num estado até então desconhecido para os terráqueos, era o elemento que lhes oferecia os meios de vida. O transporte desses organismos de Sedna para a Terra fez com que o berílio reagisse negativamente com o oxigênio terrestre, devido ao extremo calor que o planeta ofereca (comparando com Sedna). A reação fez com que o berílio (elemento letal à vida humana em todos os seus compostos) rapidamente, como uma praga, se espalhasse no ar e na água da Terra. Houve um momento em que 130 milhões de pessoas somente nos antigos Estados Unidos se acotovelavam diante de recintos que ofereciam atendimento de saúde (chamados na época de hospitais). Essa crise sem precedentes foi determinante para derrubar os Estados Unidos do posto de maior país do mundo, e colocou os blocos continentais - até a montagem de um posterior bloco planetário - na vanguarda da pesquisa e exploração espacial. Mas o problema maior não foi esse...

O berílio trazido do planeta Sedna foi, numa última tentativa da indústria farmacêutica americana de sanar o problema, enterrado na astenosfera, através da Captora 15 (uma base de pesquisa geológica que era o único contato humano com o manto terrestre, a 150km de profundidade). A inconsequência do ato somente ficou constatada quando, 37 anos depois, houve uma erupção no Recife de Dollabarat, situada no arquipélago de Açores, o que gerou um tsunami no litoral oeste europeu devido à proximidade de Açores com a costa continental, distante o suficiente para causar estrago, mas próximo demais para se constatar com rapidez a proximidade do tsunami e tomar as precauções. O resgate durou treze semanas, com um número absurdo de mortos. Esse dado somente ficou claro quando depois se soube a causa da morte: a água do mar trazia consigo o berílio sedniano, que, combinado com duas moléculas de hidrogênio (exatamente o que encontrou ao ser expelido no oceano), tornou-se praticamente um elemento homônimo às águas. Em síntese, as praias ficaram contaminadas.

Por algum tempo se imaginou com essa contaminação estava restrita ao litoral português. No enntanto, isso ocorria pelo desconhecimento do estado em que se encontrava o berílio, fato que até hoje se desconhece; suspeita-se que o elemento estava em matéria de quark (a chamada matéria-estranha). A Universidade de Estudos Avançados de Antofagasta pesquisou o caso por setecentos anos, sem ainda chegar a uma conclusão definitiva. O fato é que o berílio, por estar numa condição de flexibilização, conseguiu se espalhar por toda a extensão do Oceano Atlântico.

O que barrou a expansão do berílio atlântico (como ficou conhecido o veneno) foi o contato com os oceanos glaciais Ártico e Ántártico; quando se achava que essa expansão era irreversível e que a humanidade estava condenada, as águas frias das extremidades do planeta impediam, devido a fatores como densidade, temperatura e geomorfologia, que o berílio as transpusesse, chegando assim ao Oceano Pacífico (para cujo litoral a maior parte da população havia migrado, o que gerou casos de hiperpopulação na Ásia, África Oriental e Oceania). Desse modo, o berílio se restringiu ao Atlântico (depois rebatizado de Oceano Negro Berílico, devido ao visual que passou a ter, mais escurecido, como se permanentemente sombreado). Levou dois ciclos milenares para que todo o berílio dessas águas fosse retirado minuciosamente e encapsulado de maneira segura.

No 14° ciclo milenar, cápsulas de berílio retirado do oceano foram enviadas a Ganimedes, onde acredita-se estar seguro e incapaz de gerar novos problemas, embora a sua presença no Sistema Solar ainda seja fonte de temor; houve quem defendesse um bombardeio multiangular ao planeta Sedna, a fim de extinguir todo o veneno do planeta. No entanto, percebeu-se depois que a melhor saída era deixar o planeta em paz. Sedna tornou-se uma área fechada.

Os últimos resquícios desse período de extremas dificuldades foram conflitos oceasiáticos, causados pela hiperpopulação, numa área já superpopulosa. Problemas antigos, como xenofobia e confitos sociais ressurgiram e somente se encerraram quando as populações euroamericanas puderam voltar para suas terras, com a readequação das águas do Atlântico. Os rios da Europa e da América, contudo, ficaram perto da extinção, e os continentes ficariam sem abastecimento. A solução foi promover uma mudança química em cadeia, distribuindo para a população, ao invés do H2O (duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio, que configuram a água em sua composição normal), o composto HDO (uma molécula de hidrogênio, uma de deutério e uma de oxigênio; foi uma maneira de economizar o hidrogênio aquático).

O HDO consiste na chamada "água semipesada", até então não utilizada para consumo humano, porém à qual todos tiveram que se acostumar, mesmo com seus revezes (náuseas e doenças ocasionais). Foi o preço que tiveram que pagar os europeus e americanos pela inconsequência de trazer uma vida desconhecida para a Terra e por enterrar um veneno de tamanha magnitude em seu subsolo.



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