26 de outubro de 2014

Mensagem primeira: as suspeitas nebulosas

Ninguém soube o motivo gerador do grande incêndio interestelar que atingiu as galáxias de Andrômeda e da Via Láctea. A Magnânima Biblioteca de Lira, localizada num planeta reservado unicamente para sua instalação (situado na órbita da estrela Shulafat) foi o primeiro organismo do Regime Central - assim era chamado o governo humano que já há 12 ciclos milenares* predominava no Universo, ainda sem encontrar nenhuma inteligência extraterrestre que se impusesse como rival - a ser atingido, seguido pelo Dormitório Militar, no qual viviam durante 30 anos todos os homens com autorização para dirigir naves espaciais de carga acima de 1500 toneladas, e pelo Laboratório de Estudos Solares (LES-1) abrigado em Titã e que fazia análises do mar de metano que enfeita a paisagem deste satélite; o LES-1 é o órgão mais antigo dentre os que existiam e era o que mantinha ainda o status do Sistema Solar, abandonado ainda no 1° ciclo milenar, precisamente no ano de 3122, quando a temperatura do Sol em gradativo processo de alta já dificultava a vida na Terra, tornando-se, ainda no Século XXV, a primeira causa de morte dos humanos, suplantando as guerras e a criminalidade urbana (o trânsito e as doenças já haviam sido abolidos desde o ano 2121).

Os mais alarmistas atrelaram esse fato ao pretenso novo momento que se vivia no espaço sideral: a colisão entre as galáxias Andrômeda e Via Láctea, fato que já era sabidamente inexorável (o primeiro anúncio de que ele aconteceria ocorrera no longínquo Século XX), mas a suspeita não se confirmou pois as galáxias ainda mantinham uma distância segura (mesmo que a velocidade de ambas tenha aumentado depois dos bombardeios estelares causados por testes humanos e pela radiação eletromagnética que se espalhou das bombas de hiperhidrogênio, ainda a mais potente dentre as bombas conhecidas). Outra menção muito utilizada fazia respeito ao primeiro sinal da inteligência alienígena, desta vez muito mais mortífero do que aquele contato que os humanos obtiveram com os organismos moleculares do planetóide Sedna, que gerou uma pandemia generalizada na América do Norte e por nove séculos manteve os antigos Estados Unidos em quarentena. Mas esta suspeita também não se comprovou.

No seio dos Guardionato (o organismo que dividia os guardiões do Universo entre cores, sendo a designação Guardião Verde dada aos sentinelas de patente mais baixa, que vigiavam territórios e continentes, e Guardião Marrom aos de patente mais elevada, que vigiavam planetas e - meu caso - subregiões galácticas), falava-se também em Conspiração. A Conspiração foi um dos elementos mais presentes na dita Pré-História do Homem, que marcou a mudança do calendário de anos para ciclos milenares, e também nos momentos posteriores. Se hoje, no ano 230.000 o que ocorre é uma Conspiração, nunca saberemos. Aliás, só há um meio de sabermos: vasculhando os arquivos outrora secretos da Magnânima Biblioteca para neles conhecer histórias e momentos escusos da história do homem e de nossa espécie desde os combates contra os primeiros homo erectus, surgidos antes de nós, com os que surgiram depois, como o já ultrapassado homo heres, e o domesticado homo temporis (que qualificavam como a transição definitiva entre o Homem e o Todo-Poderoso).

Estes fatos são apresentados com vistas a situá-los um pouco no contexto da nossa História atual, antiga, antiguíssima e a já desusada, ainda que este termo não condiga co'a verdade nos laboratórios secretos onde ainda se estudam elementos arqueológicos primitivos de três planetas (Terra, Marte e Fomalhaut b).


*Um ciclo milenar dura aproximadamente 10.000 anos.

1 comentários:

Girotto disse...

Taí, meu velho. Não perdeu o jeito. Vê se mantém o ritmo e não fica de putaria. Precisa escrever mais uns duzentos desses pra contar a história. Trabalhe!

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